Uma das coisas mais inesperadas que me tornei nos últimos anos, além de uma pessoa que modela conjuntos de entidades baseada em Teoria dos Grafos, foi colecionadora.
Começou há uns anos, comprando umas fotografias antigas na feira da Praça XV no Rio de Janeiro. Quando vi, estava negociando valores de lotes e quando perguntei o preço de um, o vendedor disse que eu deveria dizer, pois sou colecionadora e entendia daquilo.
Uma das coisas mais incríveis que encontrei até hoje veio naquele lote, uma foto de uma montanha na Grécia, com uma placa estilo Hollywood, que diz OXI. No verso, um informativo: OXI = NÃO.
É mais uma parte da história grega: eles têm o Dia do Não por lá, originado por um não dito ao Mussolini por parte do Primeiro Ministro Metaxas ao ser exigido que o Eixo pudesse entrar no território grego e se valer de alguns lugares estratégicos.
E aí, minha cara leitora, se você continuar aqui a partir de agora vai se deparar com um pequeno devaneio auto centrado que transforma História em história.
Parece que na ocasião que originou o Dia do Não, Mussolini falou que eram os territórios ou a guerra e que, na verdade, Metaxas respondeu com então é a guerra. O OXI ficou mais pra efeito de força literária mesmo, afinal, a Grécia sempre foi muito boa em storytelling. No entanto, esse bastidor da realidade certamente mexeu comigo, pois estava extremamente afeiçoada com a história por trás de uma nação que tem como lema o NÃO.
Caindo para a aplicação da política na granularidade do indivíduo (vamos fazer o pacto de suspensação da descrença e acreditar nesse conceito para fluir melhor a leitura), cresci ouvindo que precisava lutar, ser uma guerreira, vencer batalhas. Mais estratégica do que guerreira de lutas físicas, desenvolvi uma personalidade baseada em tática racional: vou ser muito boa no que faço, jamais direi não, essa será minha garantia de sobreviência de quem veio de um lugar sem garantia alguma. Inocente a beça, mas a gente faz o que pode com as estruturas que tem.
Mas aí, veja, quase quarenta anos depois, o preço de não dizer não e conquistar vinte quatro territórios à minha escolha na força da serventia e da aleatoriedade dos dados: um colapso.
Dizer não se torna uma necessidade. E, sim, é a guerra então. Dizer não é também uma forma esplendorosa de dizer sim. Garantia só da morte e, mesmo assim, quem sabe?
Considerando que qualquer felicidade no mundo em que vivemos é plenamente imoral, devo dizer que é também imoral uma postura permanentemente taciturna, melancólica e conformista. Existem outras coisas aqui além de dor e sofrimento, mas pra ter a possibilidade de vê-las realmente, é preciso dizer muito não e inventar outras tipos de garantias, forjadas em outros valores e vínculos.
O Dia do Não acontece todos os anos em 28 de Outubro, mas penso que deve ser celebrado todo dia para que ninguém se inebrie acumuladamente.
saber dizer não é libertador, um aprendizado que todo mundo deveria ter.
Engraçado, toda vez que vou à feira da XV, me pergunto quem compra fotos… :)